sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Entrevista com Romero Britto


Você trabalha com incentivos a jovens artistas? Como? Você abre seu ateliê para eles? - Cris, Mato Grosso
Romero Britto -
Sempre digo para os jovens que, só pelo fato de eu ser relativamente jovem, espero que eu possa, de uma certa maneira, ser um tipo de modelo, que possa lembrar as pessoas de que ainda há possibilidade, ainda tem esperança de uma pessoa jovem crescer. Já fiz palestras em universidades, escolas, estou sempre tentando ver se passo uma mensagem de estímulo para que as pessoas possam continuar pintando, continuar com o sonho delas. Já fiz vários eventos para pintar junto com gente jovem, agora mesmo fiz um workshop com 1500 jovens na Inglaterra. Nove mil crianças se inscreveram para pintar uma pirâmide para a exposição do rei Tutancamon. Com artistas brasileiros eu fiz no passado, com o já famoso Rubens Gerschman, com o Cláudio Tozzi. Fiz desenhos nos trabalhos deles, várias vezes.
Suas obras são comercializadas como estampas de cadernos, camisetas, quadros, etc, sendo possível encontrá-las de papelarias à lojas de decoração. Você não acha que essa venda em grande escala torne suas obras em objetos do movimento kitsch? - Andréia Cristina, São Paulo
Britto -
Essa é uma opinião dela e se ela acha, pode achar, tudo bem. Eu nunca nem pensei nisso. Acho que é um momento onde as pessoas começam a criar sua própria opinião. Mas, no final do dia, eu como uma pessoa sobrevivente da Terra, em vez de fazer uma coisa que não é legal, estou fazendo uma coisa que é legal. Imagino que, em vez de estar tirando, estou somando. Acho que é importante. E a prova disso é que tem muitas pessoas que estão apoiando o que eu estou fazendo e estão se juntando a esse movimento.
Você conhece a Madonna? E outras celebridades que têm suas obras, como Michael Jackson e Bill Clinton? - Amanda, Tocantins
Britto -
Tem pessoas de quem sou mais próximo, outras não. Tem pessoas que conhecem meu trabalho e eu tenho mais tempo para ficar em contato, e outras que não. As pessoas são muito ocupadas. Mas fico muito contente de pessoas que fazem opinião, que estão fazendo alguma coisa no mundo, ao mesmo tempo achem interessante o que estou fazendo e queiram conviver com minha arte. Uma das pessoas a que mais admiro é o governador da Califórnia (Arnold Schwarzenegger). Há também pessoas que você encontra através de outro e outro. O manager da Demi Moore e o manager da Nicole Kidman eu conheci por meio de outro colecionador meu, o David Caruso, do CSI Miami. Sou padrinho do filho dele. Eu adoro conhecer pessoas. Se eu morasse no Recife, não teria essa oportunidade, mas como moro nos Estados Unidos e viajo bastante, tenho.
Como você reage quando dizem que suas obras são puro entretenimento ou decoração? Você concorda que sejam também isso? Ana Silva, Rio Grande do Sul
Britto -
Fico super feliz que minha arte possa trazer uma alegria e uma distração para um mundo que está tão cheio de coisas terríveis que estão em frente da gente todo o tempo. A gente acaba se esquecendo das coisas fantásticas que ainda existem no mundo, porque a gente está tão ligado à TV, aos meios de comunicação, que acaba se esquecendo dos pequenos milagres. Tem uma flor sendo aberta, tem um bebê, tem um peixe, tem pessoas se apaixonando, tem momentos maravilhosos que acontecem à noite, durante o dia, entre pessoas e animais. Milagres estão acontecendo desde o dia em que se nasce. E vemos barbaridades que acontecem pelo fato de as pessoas não saberem o que deviam fazer. Se minha arte chega em um momento em que está sendo um entretenimento, que bom. Os poucos que não acham arte são os poucos que não podem se entreter com ela nem adquiri-la. Meu trabalho é admirado pelo cara mais rico do mundo, o Carlos Slim. Ele pode comprar o que ele quiser. Se o jornalista ou o dono de galeria acham que meu trabalho não deve ser apreciado e fala, é uma pena. Não me incomodo, eu tenho que pintar. A pior coisa é ser ignorado pelas pessoas.
Fonte Revista Época

Clarice Vieira

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